domingo, 1 de junho de 2008

Viver


Só quero viver, só quero essa oportunidade, mas roubaram-ma quando levaram a minha alma sonhada para dentro de muros distantes, que nem sei o que protegem. Quero agora expressar-me, pois é somente isso que me mantém vivo, mas estou entorpecido, e agora já não tenho alma que me acorde, que me relembre como é gostar e saborear, como é chorar, como é viver!, agora que o tempo não se dá tempo suficiente. Os meus poros já não respiram, a minha mente enfraquece e tudo se esvai neste pesadelo sonhado em sonhos vagos, mas que cai numa realidade sólida, apoiada nas fundações duma sociedade orgulhosa mas que não se orgulha do digno, que esconde a sua coragem numa armadura insensível à dor humana. Empunha a espada por nós na força que revela, esquece-se daqueles que seguram esta fundação, assente na leve areia da praia.
Em sonhos desejo, como um simples trabalhador digno, voltar às raízes e lá permanecer, a reparar todos os estragos dos louvados, todos os actos que as destruíram. Aspiro a voltar a ser poeta e a abandonar esta armadura incumbida a meu cargo, que reflecte tudo aquilo que os homens não conseguem exigir de si. Espero ser livre, um dia, e levar o meu próprio fardo, que nessa altura não será um peso, não só por ser carregado por gosto, mas também por não ser nada mais que pão e água. Assim partirei para onde poderei caminhar neste jardim.


Luísa